domingo, 12 de setembro de 2010

O Indivíduo, a globalização e o conflito.

O Indivíduo

Um pastor. Seu nome é Jones e é responsável por dirigir cerca de 50 fiéis nos EUA. Pelo que tudo indica, Jones é uma pessoa excêntrica, considerada estranha na comunidade em que mora. 
Um dia Jones tem um sonho: ele está no meio dum grande palanque, enorme, conclamando a todos a seguirem a palavra de Deus, mas, por mais estranho que pareça, em seu sonho ele é mais do que um pastor de uma pequena comunidade local, ele é o pastor de um país inteiro e tem todos os habitantes de seu país, até mesmo o seu presidente, como seu fiel seguidor. Ao acordar, Jones não lembra por completo de seu sonho, mas tem gravado muito bem em sua mente a cara negra de seu presidente. Ela mostra o fascínio e o deleite pelas palavras do pastor. O presidente é o seu maior seguidor religioso. 
Neste dia Jones em sua pregação diária para seus 49 fiéis - pois um deles estava com uma grave dor de barriga - tem a maior idéia que já lhe passou pela cabeça: resolve mostrar sua magnitude queimando um pequeno livro, considerado sagrado por uma religião considerada por ele como inimiga.

A globalização

Carlos, mecânico, indiano, passa por uma rua de bicicleta a caminho de sua casa, numa pequena comunidade dentro dos EUA, quando vê sinais de fumaça saindo de uma pequena igreja.
Preocupado, decide entrar para ver o que está ocorrendo e vê Jones, um pastor americano que tem como fiéis cerca de 50 seguidores, segurando uma grande tocha. Caso fosse mais desavisado, Carlos acharia que o pastor era um famoso ex-atleta responsável por carregar a tocha olímpica em seu país, mas bem que lembrou que este ano não é ano de olimpíada. Estranhado com aquela situação resolve perguntar para um dos fiéis que assistem a pregação para ver o que está ocorrendo, e eis que recebe a seguinte resposta:
"A grande tocha acabará com todo o mal, Deus e o nosso grande presidente negro estão do nosso lado."
Carlos, que é hinduísta, não entende o que aquele rapaz de grandes olhos vidrados quer dizer com aquilo, mas prevendo que aquilo poderia acabar mal, por desencargo de consciência, liga para os bombeiros alegando ter uma grande tocha de fogo dentro  de uma igreja o que poderia ocasionar um desastre local. 
 Um dia depois, numa pequena notícia de rodapé de um jornal local, sai o acontecido: "Pastor é detido ao atrapalhar o trabalho dos bombeiros. Pelo que tudo indica, o pastor, achando que mataria o diabo ao queimar alguns livros da religião islâmica, quase colocou fogo em sua igreja. Testemunhas confirmam o depoimento do pastor e ainda conclamam a presença do digníssimo presidente da Repúbica para celebração do ato de fé".

O conflito

Uma semana se passou quando toda a população americana já estava por dentro dos acontecimentos e mais: Jones chamou a todos para um grande ato público, a ser feito em cada cidade americana , conclamando a todos que mandem o diabo para aquele lugar, que aliás nunca deveria ter saído. A maior fogueira será realizada na comunidade de Jones e terá transmissão via internet, ao vivo, para todo o mundo. 
Acontece que diferentemente do que havia pensado Jones, o grande líder negro, presidente do país, suplica para que Jones se exima de realizar o pretendido "em nome da paz mundial". 
Jones considera isso um absurdo: Paz mundial, com estes livros sendo vendidos, emprestados, lidos?!
 Isso nunca chegará a existir, somente ele, o pastor das 50 cabeças de ovelha, é o responsável pelo futuro da humanidade; ele sonhou com isso, ele quer isso, ele sabe disso. 
Do outro lado do mundo manifestações de protesto, ódio e rancor se espalham. Agora quem quer fazer a cópia da tocha olímpica e queimar o livro do demônio são os do lado de lá. Dizem que o fogo é a unica forma de acabar, desintegrar, extirpar todo o mal que se instaurou em nosso mundo desde que aquelas palavras foram escritas a 2010 anos atrás, e mais, quem se opor a isso será considerado infiel e, portanto, inimigo mortal. 
Jogam pedras uns nos outros. 
Atiram uns nos outros.
Cagam um em cima do outro. 
É guerra. 
Queimam-se todos os livros, tanto do lado de cá, quanto do lado de lá, e enquanto não houver fogueira suficiente para engolir todas as palavras contidas nestes livros, a guerra não cesseará. Os analistas dizem que não será a maior fogueira a grande arma decisiva para vencer a guerra mas sim aquele que tiver maior capacidade de compra e fabricação de livros. Já é comprovado, desde então, a superioridade do livro como armamento, pois, somente ele tem em si, a própria idéia encarnada do mal. Ele é o mal. Joguemos todos eles na grande fogueira da ignorância. 

4 comentários:

  1. Afinal de contas, o que seria útil queimar em uma grande fogueira? A pergunta que não cala, além da certeza de que a nossa mão no fogo não entra, nesse arcabouço pela nova espécie de queimadores de livros.

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  2. "O fogo! Vamos queimá-los!"
    É como costumo dizer: para todas as coisas há um limite, mas quando o assunto é ignorância há sempre quem não meça esforços em nos surpreender!

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