segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A man for all seasons

Esse é o nome de um filme, traduzido aqui como: O homem que não vendeu sua alma, ou, Um homem para a eternidade (Portugal). Vale a pena assistir! Conto aqui uma cena especial:

A cena
Uma discussão se trava entre Thomas More (personagem principal) e um de seus funcionários, corrupto e imoral. Este claramente quer destruir a imagem e a honra de More. Assistem a discussão sua mulher, sua filha e seu genro, um rapaz jovem e idealista.
Seu genro não aceita que More deixa que o funcionário corrupto vá embora, mesmo sabendo que irá traí-lo e desmoralizá-lo perante todos. Seu genro, idealista, se indigna, e segue o seguinte diálogo com More.
 (More é o primeiro interlocutor)
"(...)
- Até o Diabo pode sair, se não infringir a lei.
- Agora dá ao diabo o benefício da lei!
- Sim, e você o que faria? Passaria por cima da lei para perseguir o Diabo?
- Sim. Derrubaria todas as leis da Inglaterra!
- E depois de derrubar a última lei, com o Diabo à sua frente, onde se esconderia, com todas as leis derrubadas?  Este país está pejado de leis, de costa a costa. Leis do homem, não de Deus. Se as derrubasse, e é o homem ideal para o fazer, acredita realmente que poderia manter-se firme ao vento que então sopraria? Sim! dou ao Diabo o benefício da lei a bem da minha própria segurança."

Trago este trecho pois não consigo ver fala melhor para ilustrar o que estamos passando no nosso país, principalmente no estado do Espírito Santo.
Segundo pesquisas nacionais nosso estado é dominado pela violência, tanto urbana quanto rural; já ganhamos recordes, figuramos como primeiro, segundo, terceiro colocado do ranking dos estados mais violentos do país. Estamos todos amedrontados? parece ser normal que estejamos. Mas, em época de eleição, algumas pessoas são trazidas por uma entidade superior a fim de nos auxiliar no que parece uma difícil empreitada. Essas pessoas, podemos ter certeza, são aquelas que  acabariam com todas as garantias de segurança que temos para ir atrás daqueles que eles acham estarem possuídos pelo bode preto, o coxo, o danado, o grão-tinhoso, o Demo! Para estes políticos os ladrões, os traficantes, os pedófilos e outros criminosos são pessoas que devem ser extirpadas do nosso convívio social e, para isso, devemos investir mais em segurança, presídios, armamentos, e, principalmente, em redução das garantias individuais dos criminosos. A mais em voga hoje na campanha eleitoral consiste em diminuir a maioridade penal dos adolescentes e prisão perpétua para criminosos acusados de pedofilia.
Nesta forte campanha midiática eleitoreira, penso e torço para que as pessoas não caiam no discurso de acharem que ao reduzir alguns direitos para uma determinada população, estaremos mais seguros e tranquilos. Ser cidadão de um Estado é saber que as garantias individuais não são para alguns, mas sim para toda a população, para toda a sociedade, e infringir estas garantias, ou retirá-las, é um passo para que estejamos mais controlados, mais alienados, um passo para outro regime ditatorial. Devemos fortalecer nossa democracia pois num possível regime de feição ditatorial, sem nossas garantias individuais, daremos o total poder ao Estado para nos guiar e nos proteger dos indesejáveis, assim, não precisaremos gastar nossa saliva nem nossos neurônios para debater o tema da violência. Nem sequer perguntaremos porque ela existe, pois o Estado estará lá para nos dizer o porquê.
Suportemos o peso da violência sem esquecer de nós mesmos, não tomemos iniciativas drásticas no presente para não nos comprometermos num futuro próximo. E em época de campanha eleitoral,  tomemos cuidado com aqueles que aparecem com jargões ou até mesmo fantasiados com colete a prova de balas, eles prometem soluções imediatas mas, geralmente, suas propostas estão em discordância com o princípio democrático de proteção às liberdades e garantias individuais de Todos os cidadãos.

Um comentário:

  1. Pois é, Nando, e o pior é que, conforme demonstram as pesquisas, há muitos cidadãos brasileiros caindo nas falácias eleitoreiras - como, por exemplo, a do "todos contra a pedofilia" - sem se dar conta das manobras dos espertalhões. Mas o que dói mesmo é que grande parte do povo conhece (ou tem acesso) mais os chavões eleitoreiros que os direitos básicos que a Constituição lhe garante. Enfim, acabo me questionando se a eleição desses espertalhões não se trata, na verdade, de mérito...

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